Quando se lê depressa demais ou devagar demais, não se entende nada. Vinho demais e pouco demais não lho deis, ele não pode achar a verdade; dai-lho demais, também. A natureza nos colocou tão bem no meio que, se mudarmos um lado da balança, mudamos também o outro. Isso me faz crer que há molas em nossa cabeça, de tal maneira dispostas que quem toca uma toca também a contrária. Se somos jovens demais, não julgamos bem; velhos demais, também. Se não meditamos bastante nisso, se não meditamos demais, teimamos e encasquetamos. Se considerarmos a nossa obra imediatamente depois de a termos executado, ainda somos bastante prevenidos; se muito tempo depois, não a entendemos mais. Também os quadrados vistos de muito longe, e de muito perto; e só há um ponto indivisível que é o verdadeiro lugar: os outros estão perto demais, longe demais, alto demais ou baixo demais. A perspectiva destina-o à arte da pintura; mas, na verdade e na moral, quem o destinará?